NATAL À MESA III

Toucinho do Céu de Guimarães

Toucinho-do-Céu-Guimarães

por Mário Moreira

Com esta receita, um dos ex-libris de Guimarães, terminamos as nossas sugestões de Natal e Passagem de Ano, numa ementa com um total de 13 pratos.

O Toucinho do Céu, é uma das melhores e mais conhecidas sobremesas, do receituário tradicional português, na cetegoria de “Doces Conventuais”, à base de ovos, amêndoas e chila. É uma soberba iguaria de excelente paladar e requinte, onde os seus ingredientes exalam aromas e sabores seculares únicos. Quem visita a cidade berço e não prova esta delícia, é como visitar a Cidade Património da Humanidade, e não ir ao castelo.

Este doce, teve origem no Convento Santa Clara, fundado no século XIV, atual edíficio sede da Câmara Municipal.

As doceiras clarissas, pouco dadas aos rigores monásticos e de clausura, por acharem insuficiente a mesada (6$40 reis) por ano, a que tinham direito, encontraram uma subtil forma de aumentar o seu pecúlio ao dedicarem-se à produção do doce para “fora”. Um verdadeiro take way, dos tempos modernos, que desde muito cedo ganhou a fama dos seus clientes e da população do burgo.

Em 1758, o arcebispo de Braga, por lhe constar que a “coisa” estava a assumir foros de abuso, as freiras clarissas, eram pouco dadas ao serviço de Deus, além de se dedicarem às danças e a outras coisas profanas, estas doceiras eram atrevidas e em surdina faziam a maior das boémias pegadas.

O arcebispo, interditou-lhes, as artes de pastelaria. Em 1760, dois anos depois, esta punição seria renovada e agravada. Em 1771, a irmã abadessa e as suas clarissas, enviaram um requerimento ao arcebispo, declarando que estavam a ser oprimidas e discriminadas.

O arcebispo, perante este revolucionário protesto, concedeu-lhes uma licença, embora limitada, para a produção do Toucinho do Céu. Este doce tinha uma enorme importância para o convento e para a região. Faz lembrar aquela frase batida, “quem não luta, não alcança”!

Esta iguaria, é entre outros tesouros, a mais sumptuosa especialidade da doçaria conventual vimaranense. Tem um ar formoso, generoso e festivo, enfeitado com papel florido, colorido e recortado.

 

Hoje, compra-se este doce, tipo familiar, onde se pode fatiar em doses individuais, ou então, em forma de um mini molete.

 

Ingredientes e modo de confeção:

  • Levar ao lume um recipiente com 200ml de água e 500gr de acúcar. Deixar a calda apurar até atingir 108ºC, ou seja, ponto pérola.
  • Adicionar 150gr de amêndoa moída e 3 colheres de sopa de chila. Deixar ferver para ganhar consistência, retirar do lume e reservar para arrefecer um pouco.
  • Misturar 18 gemas com 2 claras, sem bater e adicionar ao preparado anterior.
  • Levar de novo ao lume, lento, a cozer as gemas, sem deixar ferver.
  • Retirar do lume e deixar arrefecer.
  • Colocar o creme numa forma com um diâmetro de 25/30 centrimetros, untada com manteiga e polvilhada de farinha.
  • Levar ao forno pré-aquecido, durante uma hora a uma temperatura de 180ºC.
  • Em frio, desenformar e polvilhar com açúcar em pó.

 

Boas festas! Votos de um excelente ano 2018, recheado com as opções mais saudáveis.

 

Um abraço gastronómico

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