
por Mário Moreira
A Tradição a Graça e a Grandeza das Festas Nicolinas
Noite do pinheiro – O dia em que Guimarães não dorme
Era o jantar do “Penico”. Assim se designava, para evocar a tradição dos nicolinos, ao servirem-se de um “penico”, por falta de espaço, a dificuldade em permitir, que um a um, se deslocassem ao mictório, na tasca do Carneiro, no Cano, junto da capela da senhora dos aflitos.
Antes do pinheiro ser levado do Cano pelas ruas da cidade e ser enterrado, tem lugar a mais importante de todas as ceias, reunindo estudantes velhos e novos, num convivio de amizade e confraternização sem precedentes, ao mesmo tempo que o corpo se alimenta para a mais longa noite vimaranense.
Até há poucas dezenas de anos, um número significativo de nicolinos, realizava, a mais aguardada das ceias, num dos locais mais emblemáticos da cidade, “o restaurante Jordão”, finalmente, a recuperar das cinzas.
Com a grandeza desta secular tradição, todos os espaços de restauração, ficam lotados, com marcações de anos anteriores, para celebrar a ceia do pinheiro, com novos e velhos nicolinos, estudantes ou não, jovens e velhos, forasteiros de todo o país, numa exaltação de efusiva alegria e confraternização, homenagem à fraternidade, que se deseja contagiante a cada ano que passa.
Consta da ementa tradicional, com algumas alterações; bolinhos de bacalhau, caldo de unto, caldo verde, papas de sarrabulho, rojões com castanhas, vinho verde carracão, aletria, leite-creme, castanhas e os respetivos cheirinhos… sem esquecer os “famosíssimos” “boletes” à moda da Srª Aninhas. Cada casa tratará a ementa e dos valores que entende. A tradicional ementa jamais deveria ser alterada. Os orgãos nicolinos terão uma importante decisão em mãos. Aferir, é necessário, este legado património de valor inestímavel.
Papas de Sarrabulho
Numa panela com água fervente, temperada de sal, folha de louro, pimenta, cravinho, cominhos, cozer; 500gr de carne de vaca, 500gr de barriga de porco, 250gr de toucinho de porco, 1kg ossos de suã, 1 galinha de pica no chão, 1 salpicão, 250gr de presunto, 250gr de sangue. Retirar os ossos e gorduras. Desfiar as carnes. Coar o caldo e levar ao lume. Adicionar as carnes desfiadas e o pão demolhado na água da cozedura. Usar um passador para o sangue. Retificar o sal, a pimenta e os cominhos. É imprescindível para umas boas papas de sarrabulho que tenham boa quantidade de carnes e de pão, que pode ser substituido por farinha. Têm de ficar bem consistentes. São servidas em malgas e polvilhadas com cominhos. Podem ser servidas como prato principal ou de acompanhamento.
Bom apetite. Um abraço gastronómico.
Foto: DR