
por Mário Moreira
Cantar a vida à mesa uma alquimia sensorial
“Comer, amar, cantar e digerir, são na realidade, os quatro atos da ópera cómica a que chamamos vida. Quem os deixar passar sem deles tirar proveito, é um completo louco”, Rossini.
Rossini, criador italiano de dezenas de óperas, um dos mais populares compositores de todos os tempos, teve uma outra faceta na sua vida, não menos importante, a sua paixão pela gastronomia.
Apreciador de pratos requintados, devemos-lhe, o legado do famosíssimo “Tornedó”, iguaria de relevo singular, com carimbo e selo planetário. Este nobre prato, com diversas variantesde, consta em inúmeros restaurantes “de alta cozinha”, em todo o mundo.
Autor da obra prima “O Barbeiro de Sevilha”, baseado numa extraordinária história de amor de um barbeiro apaixonado pela a sua cidade, que ama e enaltece a vida com ganas, numa arrebatadora generosidade do seu imaginário como; confessor, botânico, cirurgião, veterinário, “espalha brasas”, cabeleireiro… conhecimentos que lhe valeram a popularidade e o apelido de “Fígaro cá, Fígaro lá” no melhor barbeiro da cidade. Rossini e Fíagro dois prodígios, simbiose perfeita.
Invulgar e belíssimo espetáculo, a ópera, é um património cultural de todos, cujas histórias se imortalizam pelo punho de escritores, na batuta de compositores e no melhor da voz humana, produzida na primazia do canto por artistas de eleição.
É completamente falso quando se julga que, a ópera não é para o povo, mas para elites, muitas vezes falsas, têm dinheiro, mas vazias de cultura. É um espetáculo como todos os outros. É necessário aprender a gostar, tal como treinamos as papilas gustativas e nos tornamos mais sensíveis a novas experiências gastronómicas.
Numa singela homenagem a este génio compositor e gastrónomo, recomendo, a receita de um prato intemporal, criado a seu pedido. Aconselho construir como cenário, na companhia de um maduro tinho velho, ouvindo e “degustando”, “O Barbeiro de Sevilha”, numa trilogia apoteótica sensorial.
Tornedó Rossini
Cortar o tornedó cilíndrico 250gr do lombo de boi. Numa frigideira com azeite, folha de louro, haste de tomilho, 3 dentes de alho esmagados, sal e pimenta qb, selar a carne, saltear o foie gras. Com forma redonda fazer uma tosta de pão, envolver no molho. Retirar a parte dura dos espargos, limpar, cozer, escorrer, saltear em manteiga, sal e pimenta rosa qb. Na frigideira do bife proveitar os resíduos, adicionar colher de manteiga, derreter, adicionar três colheres de vinho do Porto, envolver, deixar reduzir, coar.
Colocar a tosta de pão, o tornedó, o foie gras, os espargos, regar com molho.
Bom apetite. Um abraço gastronómico.
Foto: DR