O PECADO DA GULA VEM DOS CONVENTOS
por Mário Moreira O Pecado da gula vem dos conventos Espoliadas […]
por Mário Moreira
O Pecado da gula vem dos conventos
Espoliadas da sua liberdade, do seu ócio, do namoro, do seu amor, da sua beleza e dignidade, as grades dos conventos representavam a conquista da sua liberdade, o local mais divertido do mundo e a cozinha o local perfeito para explodir…
São incontáveis as ordens religiosas que se instalaram com propósitos diversos e realidades diferentes na procura de refúgio seguro em Portugal. Fujir às perseguições religiosas nos países de origem, fundar novas casas religiosas, maioritariamente, hospícios que serviriam de casas de acolhimento, e, ao acompanhamento de rainhas estrangeiras que casavam com monarcas portugueses e assim ficavam sob proteção régia.
Se as magestosas paredes dos conventos portugueses, falassem, muitos deles, verdadeiras obras de arte da pintura e azulejo onde pontificam marcas inapagáveis de um passado de horrores e de glória, descreviam, histórias insólitas de epidemias naturais, epidemias de freiras beatas grávidas, incêndios, terramotos, invasões, desterros, mas também um local de criatividade e liberdade.
Em Portugal as fugas à tirania patriarcal da família, um irmão macho mais velho, constituia um verdadeiro cárcere. A repressão desumana da igreja exercida à sexualidade da mulher, mulher que ligada aos prazeres carnais e culpada de todos os males, devia manter-se inocentemente submissa à castidade a sete chaves.
Então, o que fazer? Explodir na cozinha, lugar onde podiam dar largas a experiências, invenções e criatividade e assim deliciar-se, pelo supérfluo, complexo e descaradamente sensual: os doces…. com empregadas para lhes fazer as refeições, sebosos frades barrigudos a confecionar os salgados, até os padres abelharucos para lhes rezar o oficio divino.
Miguel esteves Cardoso, escreve, “Dirse-a-ia que a doçaria conventual é o contrário da simplicidade e do sacrificio das freiras. Mas não: é o resultado. É nela que se soltam e concentram todos os desejos de liberdade e de prazer. Toda a criatividade e toda a revolta, ternura, mimos-de-confessor, sestas, raivas, beijos e barriguinhas”.
Pão de Rala, jóia Alentejana
Levar ao lume 500gr de açúcar, 3cl de água, até obter ponto de fio. Adicionar 500gr de amêndoa moida, ferver, mexer até ficar espesso. Retirar do lume e adicionar 20 gemas. Misturar raspa de 1 limão, levar ao lume até obter ponto estrada, deixar arrefecer. Colocar a massa numa taça, fazer um buraco e rechear a mistura de 100gr doce de ovos, 100gr fio de ovos, 120gr doce de chila. Tapar e fazer uma bola achatada. Levar ao forno durante 30minutos a 180º. Retirar e polvilhar com açúcar em pó.
Bom apetite. Um abraço gastronómico.
Foto: DR
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